Qual dimensão da Degradação de Terras no Brasil?
Uma questão acadêmica que vale um debate na Rede Agronomia. Qual a dimensão da degradação de terras no Brasil? Há alguma estatística nacional que meça esse problema?
Só identifico o esforço internacional realizado pela FAO em parceria com ISRIC (International Soil Reference and Information Centre) produzindo o excelente relatório "Avaliação Global da Degradação e Melhoria das Terras" (Global Assessment of Land Degradation and Improvement). Pesquisa Nacional publicada, desconheço solenemente. Alguém tem alguma luz, algum dado que possa contribuir?
Os dados do relatório revelam que o Brasil possui uma área de quase 2 milhões de quilômetros quadrados, o que representa 22% do terrritório nacional. Como foi um levantamento baseado em imagens de satélite, sempre há uma margem de erro, pesando aí a própria interpretação dos técnicos envolvidos, muito embora seja uma medição consolidada entre 1981 e 2003, 23 anos de análise de dados. Enfim, uma excelente pesquisa pra se compartilhar.
Country |
Degrading area (km2) |
% Territory |
% global degrading área |
Total NPP Loss (tonne C/23yr) |
% total population |
Affected people |
Brazil |
1.881.702 |
22.11 |
5,381 |
63.346.318 |
26.67 |
46.595.573 |
The World(land, excluding inland water body) |
35.058.104 |
23.54 |
100,00 |
955.221.418 |
23.89 |
1.537.679.148 |
Fonte: Global Assessment of Land Degradation and Improvement, 2008
Se alguém dispuser de dados ou fontes nacionais, agradeço a contribuição.
Comentários
Caro Leonel, grato pelo retorno e incentivo. De fato um curso de atualização em classificação de solos é uma demanda reprimida entre os agrônomos, especialmente diante das novas classificações que nós da velha turma não aprendemos.
Conti, pelo visto dimensionar perda de solo é mais complexo do que parece a primeira vista. O argumento usado nesse caso é que nem todo solo que é carreado de uma encosta, por exemplo, vai parar num corpo d’água. Muitas vezes ele é transportado na paisagem levando, inclusive benefícios à jusante.
Uma constatação no entanto é que controle de degradação de terras não tem funcionado se ele é só aplicado em nível de campo. O gestor agrícola – e isso é um comportamento mundial – é refratário a investir pensando apenas na conservação e seus benefícios. Daí uma nova abordagem que pensa no controle da degradação em níveis mais amplos envolvendo o interesse público e dimensionando políticas públicas que direcionem e estimulem esse comportamento: - passamos a usar cinto de segurança porque é mais seguro ou porque a lei obrigava?
É isso aí!
Caro Gilberto,
O tema "Degradação de Terras - Qual Dimensão?" causou interesse.
Para proposta do curso de solos é um bom indicativo.
Muito bom comentário do Conti. Verdadeiro, experiente e orientativo.
Gostei de ver o Mário partilhando sua experiencia na CETESP no interior de SP.
Eliezer comentou que o uso adequado do solo agrícola é atribuição do engenheiro agrônomo.
Caros colegas,
Até agora todas as colocações abaixo são absolutamente verdadeiras. Verdadeiras e necessárias. Quando me formei em 1974 nutria a "doce ilusão" de que ao final do século XX estaríamos em um estágio do uso racional dos solos de qual forma adiantado, que nomes como "voçorocas", "erosão", e "lodo de enxurradas " eram palavrões "presentes" de um "passado atrasado". Pois bem, o século XXI já conta com 11 anos e ... continuamos a ver esses "palavrões" e esses acidentes geográficos a cada década maiores. A cada verão chuvoso (no centro-sul), observamos, horrorizados, enormes quantidades de solos sendo destruídos e provocando outras destruições, com a morte de árvores e de gente. Fica aí o registro de que evoluimos em algumas frentes, mas desgraçadamente, deixamos de evoluir - ou mesmo regredimos - em outras áreas. Em termos de conservação de solos, creio que "involuimos". Há meios indiretos, bem antigos, de se medir o tamanho dessa destruição. Talvez o método ainda confiável seja aquele do IAC, de medir a quantidade de solo depositado por pequenas lagoas construidas em pontos estrategicos do terreno, solo esse trazido pelas águas das chuvas da microbacia local. A extrapolação dessas quantidades de solo acumulado para a área total da microbacia e/ou até da bacia como um todo, ainda que não se constitua um método extremamente preciso, é um método aproximativo bastante interessante. Abraços. Caconti.
Caros,
Concordo que a Recuperação de Áreas Degradadas deve ter uma condução técnica e engenheiro agrônomo é o profissional indicado.
O que supreende é desconhecer qquer fonte nacional sobre a extensão do problema.
De fato, não se trata de um fenômeno facilmente definido e delimitável, mas será que não dispomos de nenhum dado dimensionando o problema?
O comentário do Sr. ELIEZER FURTADO DE CARVALHO é ótimo. Em outro viés, eu gostaria de enfatizar a preferência dos órgãos ambientais por uma árvore nativa em detrimento da degradação do solo (e de mananciais). Quem executa um projeto que resulta na conservação de toneladas de solo e na contribuição para o lençol freático de milhares de m3 de água (por ano), deveria receber alguam consideração. No entanto, se uma única árvore isolada precisar ser abatida toda a compensação ambiental é unicamente em função da tal árvore, como se a conservação do solo não fosse de interesse ambiental. Há uma dicotomia, uma separação artificial dos problemas, uma valoração desigual dos benefícios ambientais. (A impressão que dá é que os ambientalistas se portam como leigos, para os quais vale a sensibilização com um mico-leão para que seja favorecida a conservação do bioma). Esse Código Florestal deveria constar mais das denúncias das grandes áreas exploradas e não terraceadas ou contribuindo para os carreadores do que de Reserva Legal. As Prefeituras que se esforçam por conservar suas estradas (há estudos que dizem que as estradas e carreadores são as principais vias de carreamento de solo... estradas encaixadas devem ser vistas como erosões... originalmente elas eram na superfície... para onde foi toda a terra?) estão tendo muitas dificuldades com a CETESB aqui no interior de SP.
Para proteger, melhorar e/ou recuperar tecnicamente as terras de todo o Território Nacional e para fazê-las produzir adequadamente, existe a AGRONOMIA. Nesse mesmo sentido, existem leis como a 5.194/66 e as resoluções do CONFEA, que, com força de Decreto, regulamenta esta Lei federal, por meio da Resolução 218/73. O uso adequado do solo agrícola é atribuição do engenheiro agrônomo e deveria ser realizado somente com a participação efetiva de um responsável técnico, conforme dispõe o artigo 5º da Resolução 218/73, combinado com o artigo 1º. Visando assegurar que as atividades técnicas atinentes ao uso correto do solo agrícola sejam efetivadas mediante a participação de um profissional legalmente habilitado a mesma Lei criou o CREA e deu a ele a função de fiscalizar o exercício profissional. Entretanto, existe , desde as universidades, onde a maioria dos professores não são registrados no CREA, não o conhecem e não o respeitam, passando pela maioria dos profissionais desconnhecimento da legislação profissional. E, por parte do CREA existe a omissão, deixando correr soltas grande parte das atividades relacionadas ao uso das terras, que acabam por ocorrer sem a efetiva participação do engenheiro agrônomo, gerando todo tipo de degradação à terra e aos demais componentes ambientais, como água, plantas, animais e o próprio homem. A solução está em nos concientizarmos da necessidade de que nós, juntamente com o CREA passemos a cumprir as determinações legais.