A "história" dos gramados esportivos no Brasil é muito recente.
Inicialmente jogava-se em campos de grama nativa (Batatais - Paspalum notatum). Grandes jogadores como Pelé, Zagalo, Garrincha, Zico, Falcão, Sócrates, Batista, Júnior, etc, só para citar alguns, até o início da década de 90, do século passado, jogavam em campos precários. Era muito comum jogar com as áreas frontais aos gols inteiramente carecas... Campos sem grama de gol a gol. Era, literalmente, pasto aparado e com um elevado grau de ervas invasoras. Campos duros, com base argilosa. Campos esburacados. Que traziam grande risco à integridade física dos atletas.
Entre o final da década de 80 e meados da década de 90, do século passado, iniciou-se uma verdadeira revolução nos gramados esportivos nacionais, com alguns Engs Agrônomos que se dedicaram a essa área.
A partir de 1990, as gramas nativas começaram a ser substituídas, gradativamente, pela grama Esmeralda ( Wild zoyzia ) que foi a primeira variedade cultivada no país, em moldes profissionais. Os principais conceitos de drenagem começaram a ser revistos e muito dos conceitos que vieram dos gramados de Golf passaram a ser usados nos campos de futebol. Desta forma ocorreu uma grande melhora na qualidade dos gramados.
Depois de 1998, com a possibilidade de uso das gramas Bermudas híbridas (cruzamento da Cinodon dactilum x Cinodom transvaliensis ), o salto de qualidade dos nossos gramados ficou mais evidente. Era uma segunda geração de variedades de grama (tifton 419, ITG6 e a Celebration), com uma aptidão maior a formar gramados esportivos que a Esmeralda, e uma segunda geração de Engs Agrônomos, que junto com os pioneiros, conseguiram aos poucos incutir uma mentalidade nos dirigentes esportivos da necessidade de se investir nos campos de treino e jogo. O gramado é o palco verde do espetáculo!!!
Tudo melhorou e evoluiu nos últimos 15 a 20 anos em gramados esportivos no Brasil: mão de obra técnica, máquinas, drenagem, irrigação automatizada, manutenção, etc.
A despeito da intensa carga de uso, da sombra, etc., conseguimos levar a maioria dos campos, até o fim do ano com grama e razoável qualidade. Não dá é para querer comparar com os gramados da Europa, onde o investimento em gramados é muito maior e, principalmente, feito há muito mais tempo. E com muito menos jogos/atividades por lá.
Porém, nos últimos 20 anos ocorreram, também:
- aumento da capacidade física do atletas, que hoje correm o dobro que há 20 anos atrás;
- redução do tamanho dos campos ( de 110x75m, para 105x68), com 1.110m2 a menos para 22 atletas que hoje correm mais;
- as chuteiras passaram a ter mais cravos, quadrados ao invés de redondos, que conferem maior poder de tração para os atletas, mas que em contrapartida, provocam mais injúria mecânica aos gramados;
- a moderna arquitetura de Estádios trouxe as coberturas e os formatos tipo arena, que, se de um lado proporcionam maior conforto ao espectador e beleza estética ao estádio, impõe sombra ao gramado (a grama precisa da luz solar para fazer a fotossíntese e poder crescer, produzir massa verde e ter capacidade de suporte de pisoteio) e
- temos um calendário que é criticado por Técnicos e Comissões técnicas por sobrecarregar os atletas profissionais. Isso não é diferente nos campos. O Stadium Rio teve no primeiro semestre um número de atividade maior que um Estádio Europeu em um ano. Este ano, entre 19/01 e 29/10/2011 tivemos 91 jogos oficiais (ao todo 126 eventos), enquanto Wemblei tem 20 jogos/ano, o Camp Nou 30 jogos/ano, ou Guerlan 30 jogos ano. . . Esse é apenas um exemplo. Mas as Comissões Técnicas se esquecem que não há banco de reservas para os campos de futebol, quando criticam o gramado.
Apenas como referência, vejam as atividades na Amsterdan Arena, entre 14/08/2010 e 15/05/2011 = 17 eventos em 270 dias (uma temporada):
Ou seja, entre 20 a 30 jogos ano. . . Nós tivemos, no 1o semestre, 62 jogos em 160 dias. . . Ao todo foram 90 atividades em 06 meses!
Assim, quando um determinado jogador, ou técnico, critíca um gramado no Brasil, este, ignora (no sentido mais puro do termo) tudo o que está acima explicado. E, como profissional da área, não deveria ignorar.
Não se deveria criticar um gramado, sem ter o conhecimento de toda a situação que leva um campo a não estar na sua melhor condição.
A crítica, quando construtiva, é SEMPRE bem vinda e bem aceita. Nos ajuda a melhorar. Quando é feita construtivamente e pelos canais próprios. E há canais próprios e sempre abertos.
Agora criticar, sem conhecimento de causa, ignorando tudo que leva a prejudicar a qualidade do piso, não é uma atitude positiva.
Trabalhamos de forma a dar as melhores condições possíveis de trabalho a Jornalistas, Comissões Técnicas, dirigentes e atletas (todos os usuários dos gramados). E vamos continuar a fazê-lo, sempre, ainda que algumas vezes sejamos criticados por profissionais que desconhecem por completo o âmago e todas as nuances da questão.
Comentários
Gilberto, Antônio, Fernando e Eric.
Obrigado pelo apoio. É um registro para aqueles que falam sem conhecimento do que realmente vem ocorrendo nos nossos gramados, nas 02 últimas décadas.
ARTUR
Fala, fala, "GRANDE" Artur...!!!
Brilhante, fantástico, seu apanhado histórico, numa síntese muito bem analisada.
Parabéns!!!
Abraço
Eric Watson
Latitude Verde
Caro Artur
Parabéns pelo seu comentário.É importante que as pessoas que criticam nossos gramados,saibam dos detalhes,que muitas vezes,só nós técnicos conhecemos e aproveitam para criticar um trabalho de alto nível profissional que voçê eoutros colegas realizam.
Um grande abraço
Fernando Rezende
Futuro Fértil
Prezado Artur,
Gostaria de cumprimentá-lo pela excelente explanação sobre a história e evolução dos gramados esportivos e a importância da pesquisa e atuação técnica do engenheiro agrônomo neste processo.
Caro Artur,
Parabéns pela aula de história e evolução dos gramados esportivos e a importância da pesquisa e atuação técnica do engenheiro agrônomo neste processo.
Um espaço conquistado e a ser ampliado.