Terminou ontem em Glasgow, na Suécia, a Conferência do Clima, ou COP-26 e, como era de se esperar, os vegetais representados pelas florestas, foram apontados como os vilões das emissões de gases do efeito estufa. O compromisso político de parar o desmatamento e reverter a degradação florestal em 2030, que envolve quase US$ 12 bilhões, 124 países e perto de 90% das florestas mundiais, está sendo considerado um dos grandes êxitos da COP-26.
A culpa que nos cabe, nesse latifúndio
As atividades agrícolas que mais liberam gases de efeito estufa para a atmosfera são o desmatamento, a queima de biomassa, a degradação e a superexploração de pastagens, a mecanização do solo (como gradagem e aração) e a emissão de dejetos orgânicos.
A agricultura, o aquecimento global e os danos que as mudanças climáticas devem causar na produção agrícola mundial compõem um importante ciclo de causas e efeitos relacionados.
Por um lado, a agricultura é uma das responsáveis pelo aumento de temperatura: as emissões do setor, somadas ao desmatamento para a conversão de terras para o cultivo, representam algo entre 17% e 32% de todas as emissões de gases do efeito estufa provocadas por atividades humanas. É o que dizem cálculos independentes de Pete Smith, da Universidade de Aberdeen (Reino Unido), um dos autores do capítulo de agricultura do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas). (1)
(Uso da terra na Mata Atlântica alimenta o efeito estufa, O Globo, 3.11.2021, pág. 11).
Na região que concentra 80% do PIB, agropecuária emite mais gases do que a queima de combustíveis fósseis, segundo a jornalista Cleide Carvalho. As atividades agropecuárias e o desmatamento, somados, são os responsáveis por metade do total de emissões de gases do efeito estufa da Mata Atlântica, segundo estudo de uma parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola e o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, iniciativa do Observatório do Clima. (2)
A queima de combustíveis fósseis responde por 37% das emissões.
Mesmo no bioma que reúne 80% do PIB brasileiro, o uso da terra ainda é o principal problema, diz Luís Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da SOS Mata Atlântica.
Com um desmatamento de 115 milhões de hectares, a Mata Atlântica é hoje o segundo maior responsável pelas emissões de gases do efeito estufa no Brasil, com 23% do total, atrás apenas da Amazônia (39%), seguido pelo Cerrado (20%).
Especialistas dizem ser possível tornar o uso da terra neutro em emissões a partir de 2042. Isso dependeria de políticas públicas e do compromisso dos setores produtivos com a meta de desmatamento zero em 2030, práticas de baixa emissão de carbono na agropecuária e a restauração de 10 milhões de hectares de florestas até 2050.
No período do estudo, de 2005 a 2050, a área a ser restaurada com floresta chegaria a 15 milhões de hectares, o equivalente a mais de três estados do Rio de Janeiro. Do total desmatado, ao menos 5 milhões já foram regenerados e se tornaram mata secundária.
Áreas da Mata Atlântica mantêm 20% do rebanho bovino brasileiro. Segundo Guedes Pinto, é possível reduzir a área de pasto de 37 milhões para 21 milhões de hectares, com aumento do rebanho, e expandir a área agrícola de 17 milhões para 25 milhões de hectares, com aumento de produtividade, até 2050. Podemos produzir muito alimento, aumentar a renda e restaurar florestas.
REF.:
[1] Aquecimento global e produção agrícola do Brasil, Agritempo.
https://www.agritempo.gov.br/climaeagricultura/causa-e-efeito.html
[2] O Globo