“As fortes chuvas provocadas pelo El Niño no ano passado e no início deste ano destruíram uma grande parte das estruturas de conservação e contenção da erosão das propriedades. Além disso, os novos equipamentos de produção – plantadeiras, tratores e colheitadeiras – foram fabricados em dimensões e peso inadequados às necessidades de manejo e conservação de solo e água até então. O Plantio Direto terá que ser retomado para melhorar a eficiência de das novas tecnologias e manter a sustentabilidade das produções.” (palavras de Ágide Meneguette, Presidente do Sistema FAEP/SENAR – PR)
Esta é uma situação real e recorrente. O problema, parece-me, foi exposto nesse parágrafo.
É importante, entretanto, refletir sobre o mundo que vai lá fora. No campo mesmo. Onde estarão nossas fragilidades e sugestões para minimizar, controlar o problema da degradação do solo pela erosão e escoamento superficial da água?
- As máquinas são mesmo fabricadas em dimensões ou peso inadequados? O parque de máquinas evolui. Máquinas modernas, avançadas (GPS) e que seduzem os produtores rurais que as compram.
- As rotações de culturas estão inadequadas? faltam plantas apropriadas? O chamado imediatismo do produtor? Que não opta por uma cultura de cobertura porque precisa de dinheiro para pagar as contas no final do mês.
- O Produtor Rural vive em uma economia de mercado. Tem que ser competitivo (eficiente e eficaz) para crescer na atividade. Quem fica no mesmo patamar, quebra. O governo, com todas as limitações, disponibiliza crédito diferenciado para o setor, e a sociedade que cubra os rebates de juros ao tesouro.
Que outros aspectos têm impedido o avanço de uma agropecuária mais, digamos, sustentável (nas três pernas)? Onde estarão gargalos e quais estratégias sugeridas para minimizá-los?
Estariam, as recomendações técnicas, corretas? São as máquinas inadequadas que precisam se ajustar à paisagem? O produtor rural é mesmo imediatista?
Parece-me que o discurso agronômico se repete durante o tempo e amassamos barro (sapatear no mesmo local). Por onde avançar? Eis a pergunta.
“Na economia de mercado não há outro meio de adquirir e preservar a riqueza, a não ser fornecendo às massas o que elas querem, da melhor maneira e mais barata possível” Ludwig von Mises
Texto formulado pelo Engenheiro Agrônomo Maurício Carvalho de Oliveira
Chefe da Divisão de Agricultura Conservacionista do Mapa, Brasília, DF
Comentários
É Pedro, tentei convencer gaúchos e paranaenses de Nova Santa Rosa no Piauí por 4 anos, fechei meu escritório e retornei com o rabo nas pernas. Não aceito idiotice acima do limite tolerável.
Imagens recentes publicadas pelo colega Antônio Luis Santi (Frederico Westphalen, PR, https://www.facebook.com/antonioluis.santi) de lavouras de soja recém colhidas em Cruz Alta e Sarandi, RS (26 e 27/04/2017). São impactos do vazio outonal x altas precipitações. Fruto da ausência de práticas conservacionistas e da decisão de produtores e de seus consultores agronômicos de não adotarem o Sistema Plantio Direto com suas premissas de não revolvimento do solo, rotação de culturas e cobertura permanente do solo.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1017858801678686&set=pc...
Pedro, você é da EMBRAPA? Me sinto um tanto constrangido porque a EMBRAPA e mais algumas espalhadas por este Brasil, formam a base da minha experiência profissional. Tudo que faço ou estudo bebo desta fonte inesgotável de conhecimento. Parabéns a você e a todos os cientistas "EMBRASPIANOS".
Por falar nisto, show aquele trabalho que vocês fizeram, recentemente, demonstrando que, os estragos provocados por nematoides em soja, se deve a solos desequilibrados, com uso profissional da técnica de precisão. De quebra ainda ganhamos a consciência da picaretagem que as consultorias têm feito com os Produtores rurais com o uso inadequado da mesma tecnologia. Bom saber que em solos equilibrados não teria sido necessário o uso irracional de defensivos do passado recente.
Dr. Manoel, não passo receita de forma nenhuma. Fiz e faço sempre, colocar uma certa consciência nas pessoas que estão lendo os textos desta discussão. Se tentarem praticar o que está escrito ali, sem o acompanhamento de um profissional experiente, será uma catástrofe.
PEDRO LUIZ DE FREITAS, boa noite, Lamento que o colega Mauricio Carvalho não acompanhe essa discussão. Vou tentar enviar por email, quem sabe ele adere à REDE AGRONOMIA.
Parabens
Mauricio Garcia / DF
Obrigado pelos comentários. O mérito do texto é do Engenheiro Agrônomo Maurício Carvalho de Oliveira do MAPA em Brasília.
Também desconheço a origem da foto. Me parece sim um solo de textura leve (Neossolo Quartzarênico ou um Latossolo) que sofreu um processo de compactação. A água lavou a camada superficial e mostra os riscos do facão da semeadora em nível.
Colega Francisco cita o exemplo de agricultores entrando com arado e grade nos solos arenosos do Piauí. Sugiro ver comentários que fizemos no Zoneamento Agroecológico do MATOPIBA a respeito daquela região: ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/134012/1/DOC-179-Matopiba.pdf.
O exemplo de agricultura irrigada no MS e a solução por ele sugerida mostra como os princípios da agricultura conservacionista já fazem parte do cotidiano da Engenharia Agronômica. O uso de opções de cobertura como as crotalárias, o milheto e as braquiárias são opções para os solos arenosos.
Nesse caso, sugiro os colegas a darem uma olhada no trabalho que publicamos na PAB no ano passado sobre os solos de textura leve: https://seer.sct.embrapa.br/index.php/pab/article/view/22572/13503.
Obrigado a todos pela excelente discussão.
Se falei bobagem perdoe-me!. É que também sou Eng. Agrônomo, e também sou assim!.
Boa tarde colegas, quantas pessoas de boa índole!. Profissionais, com um único objetivo, transferir informações e diagnósticos, a quem quiser ler e aprender!. Isto se trata de Engenheiros Agrônomos, são profissionais, desprovidos de qualquer ambição financeira!. Apenas querem dar o melhor do seu conhecimento a quem quer que queira saber!. Ah, se fosse um médico, ou um advogado, estariam cobrando pelo menos R$ 400,00 / cada consulta!. Mas esta é nossa natureza!. E por esta afirmação, não se consegue mudar!!...Né?!?.
Olha que beleza, numa tacada só, diminuímos o potencial de nematoides, implantamos um PD robusto. Senhores, nunca se esquecer de que você ganha dinheiro trabalhando o investimento no médio ou longo prazo.
Se feito sob os olhos de um profissional especializado (como eu, por exemplo) tem muita coisa aí que se trabalhado de forma correta você economiza agrotóxico na produção de grão, trabalha com elevada capacidade de suporte em pecuária, etc. Gente o sucesso do agro está no solo. Acertou aí, o sucesso é garantido e duradouro.
Os senhores estão corretos. Vou contribuir um pouco.
Sistematização do terreno para promover a recuperação da matéria orgânica no horizonte A, conservação de solo com terraços de base larga. Subsolagem a 25 cm de profundidade. Correção de solo com uso de calcário e de acordo com teores de Ca e Mg do solo. Uso de grade pesada na incorporação. pronto, restituímos a capacidade produtiva desta área. hora de fazer perfil. Adição de gesso agrícola numa dosagem nunca inferior a 1.550 kg/ ha. De acordo com resultado de amostragem na camada de 20 a 40 cm de profundidade. Se tiver necessidade de gesso, não poupar dinheiro nesta hora. Feito isto, recuperar a fertilidade natural com macro e elementos nutrientes de acordo com a quantidade de calcário utilizada. Fazer uma safra nesta área com diferentes tipos de espécies vegetais para que seja formada uma massa de raízes com calibres diferentes, por exemplo: 5 kg de crotalária juncea, 5 Kg com spectábilis, 5 kg com ocroleuca, 5 kg com nabo forrageiro, 5 Kg com milheto e 5 kg com brachiaria brizantha. Misturar tudo e jogar a lanço. Quando esta maçaroca estiver com 0,90 a 1,5 m de altura, dessecar e voltar a ser feliz.
Desculpem o desabafo.